(Essa é apenas uma segunda parte, mas no original está como uma só)
A outra aeromoça era uma loira, com os cabelos
quase tão claros que pareciam brancos. Usava maquiagem demais, assim como
bijuterias.
- Olá! Meu nome
é Julia, está tudo bem? –Ela perguntou com um sorrisinho horrível, forçado o
suficiente para parecer que ela não queria estar ali.
- Sim... –Eu
dei um sorrisinho fraco.
Depois, ela
começou a falar sobre maquiagem e moda, não prestei atenção e ela não percebeu
que eu tinha colocado os fones de ouvido. Fiquei na primeira música mesmo, só
para parar de escutar ela.
Depois de umas
três horas escutando (ou não) Julia falar sobre seu namorado “perfeito”,
chamaram ela e uma aeromoça mais velha, devia ter uns quarenta anos, ficou em
seu lugar. Ela nem me cumprimentou, não falou seu nome, apenas se sentou e
começou a ler um jornal.
Ela ficou até
depois do jantar, o que me fez ler as quinhentas revistas de milhões de anos
atrás do avião. Milene finalmente voltou, sorridente como antes.
- Olá,
Alexandra! –Ela se sentou na cadeira.
- Oi... aquela
Julia não tem nada pra fazer, não? – Perguntei rápido, e depois arrependi, será
que ela é amiga da loirinha? Mas ela riu do mesmo jeito engraçado e repondeu:
- Além de
contar sobre o namorado dela e de contar onde comprou suas maquiagens caras?
Não sei, acho que não!! –Eu não pude deixar de rir –E a do jornal?
- Uma que lê o
mesmo jornal quinhentas vezes e nem “se lembra” de cumprimentar as pessoas?
–Ela confirmou com a cabeça –Eu tive que ficar com ela também!!
- Uma dica
muito boa para quando estiver Bendlerwood: A floresta é péssima para as aulas,
mas algumas são obrigatoriamente nela. Então, aja como se estivesse perdida lá
dentro, aí vai saber como se virar!
- O que? –Não
entendi nada com nada e... Uma floresta? Em Nova York?
- Só ouça...
quando chegar lá vai entender! –Abri a boca para fazer mais uma pergunta, mas
Julia chamou novamente Milene. De novo, não saberia o significado de algo
estranho que ela me falou.
Apertei o play
do MP3, que estava desligado. Começou a tocar uma música que há muito tempo eu
não ouvia: Airplanes, do B.o.B e da
Hayley Williams. Quando comecei a cantar o refrão alto, ouvi:
- Para de falar
alto, menina! –Era a moça do jornal, com uma revista de tricô na mão. Desliguei
o som.
- Desculpa.
–Falei séria. Ela se sentou e começou a ler a revista, enquanto eu ligava
novamente o MP3 e cantava baixinho –“Can
we pretend there airplanes in the night sky are like shooting stars? I could really
use a wish right now, a wish right now, a wish right now...”
Eu fiz uma apresentação de dança com essa música quando
tinha dez anos. Eu fazia aula de dança naquela época, mas todo ano eu mudava.
Tia Odete achava que “não era aquilo o meu talento especial”, e me colocava em
outra atividade. Eu concordava, era até divertido.
- Ei, garota! Vou precisar dizer novamente
para falar baixo? –A aeromoça chamou minha atenção novamente, mas eu me
defendi, afinal, nem estava cantando mais!
- Eu não estava cantando!
- Estava há alguns minutos! –Ah não, não mesmo! Não
vai ser chata assim justo comigo! Tirei os cintos e levantei, séria. Falei
ainda assim com ela:
- Olha aqui, moça! Ser muito mal educada passa, ignorante
também, assim como nem falar comigo! Agora, chamar minha atenção por coisas que
não estou fazendo não! –Ela fechou a cara e retrucou:
- Mocinha, não se atreva a falar assim
comigo! Sua mãe não te deu educação, não? –Dei um sorrisinho debochado, de
raiva.
- Para sua informação, minha mãe sumiu,
desapareceu, foi teletransportada com pó de pirlimpimpim, quando eu tinha uns
seis anos!
- E qual a parte do “Respeite os mais
velhos” que ela não ensinou? –Ela deu o mesmo sorriso debochado que eu tinha
dado antes.
- Acontece que minha tia me ensinou que
esse ensinamento só serve para adultos suficientemente educados! –Ela fechou a
cara. Olhei em volta e percebi que mais da metade do avião olhava para nós.
- Está insinuando que sou mal educada?
–Ela perguntou pausadamente e séria. Arrumei coragem e desafiei:
- Não, eu estou é afirmando!
- Duvido! Fui muito bem educada! –As
outras aeromoças chegaram, tentando apartar o que poderia ser uma briga
–Loirinha, eu sou mal educada? –Ela perguntou a Julia, com expressão
intimidadora. A loira confirmou com a cabeça, rapidamente –Morena, você aí!
–Ela apontou para Milene que atendia um passageiro, e se virou rapidamente –Eu
sou mal educada? –Ela ficou quieta e baixou o olhar alguns segundos, mas logo
respondeu, sem medo:
- Sim, senhora, e isso não é opinião
minha! Temos muitas reclamações dos passageiros! –A mulher parecia chocada com
o tom sincero de Milene.
-Ora, mas eles não tem experiência alguma!
Não sabem o que é trabalhar em um avião e....
-Não, elas não sabem. Nem sonham... Mas
tem coragem suficiente para reclamar de uma aeromoça como a senhora! –Ficou séria
a morena. A mais velha se calou e saiu de perto. As demais voltaram ao seu
trabalho, os passageiros desviaram o olhar e Milene voltou a trabalhar também.
Não antes de me mandar um sorriso e
desejar “Boa Sorte!”.